quarta-feira, setembro 17, 2014

Penélope

Ele riscou sua pele. Não queria falar em substituições, mas em aprendizados. Ela, singular, sorriu. Não para ele, mas para si. A alegria de perceber-se uma realidade à parte, um desejo único - não um copycat, era grande demais para ser externada. Preferiu calar.

Da mesma forma, pensava consigo, quantas sessões de terapia ele não havia economizado com esse gesto. Um ato falho corrigido é um amadurecimento, concluía. Mais uma vez, sorriu. Agora, por ele.

Às vezes, também chorava. Pelas batalhas que sabia estarem sendo travadas. Empatia, empatia, empatia. Um choro silente de Penélope pós-moderna, resiliente e consciente de que sua impotência era total. A travessia era dele e apenas dele.

Só lhe cabia esperar. E tecer. E observar. E destecer. Penélope. Batalhas. Sorrisos. Ela. Ele.

domingo, agosto 10, 2014

Obrigada, universo

Obrigada, universo. Era assim que, lentamente, punha-se a despertar naquele domingo. Não que fizesse isso sempre. Mas, diante do sábado que passaram juntos, e que se desdobrou em semanas com tantas conversas, olhares e toques, não poderia ser diferente. Também a semana havia se desdobrado em meses e então, convencia-se da maleabilidade da percepção do tempo.

Aquele sábado havia feito história em uma história que já não se explicava por si. Apenas era vivida, intensa e maravilhadamente. Pois maravilhados estavam com a fluidez do afeto, da palavra e, até mesmo, do humor diante do que, em meio a tantos começos, dava-se o direito de também não fluir com perfeição, mas com promessa de sê-lo. Começos. O primeiro livro, primeiro champagne, o primeiro jantar, nudez e entrega. Não necessariamente nesta ordem, mas todos na ordem que mais lhe cabiam existir.

E presença. Presentes estavam ao se dar como presentes um para o outro, sem olhares no infinito ou pensamentos transversos. Estavam ali. Nem no antes, nem no depois. Com a naturalidade intuitiva de um pressentimento. De quem se deixa conhecer parecendo que já se conhece. De quem se importa e não esquece. Detalhes. E todo o resto. Num continuum de franqueza que traz a paz que só os francos vivem. Transparência.

Com o futuro, não se importavam.

Pois já haviam dobrado o tempo, e carregavam a certeza de que, brincando com ele, cada novo dia e cada nova semana já seriam outros dias e semanas. Desdobrados e contínuos. Presentes.

Obrigada, universo.

domingo, julho 20, 2014

Belas Artes, você e eu

Hoje, o Belas Artes reabriu. O Belas Artes onde vimos 'José e Pilar'; onde, ao final da sessão na qual nos sentamos separados, você correu pra ficar perto de mim e, no silêncio, disse com os olhos que me amava, mas de uma maneira intraduzível em palavras. Isso, antes de sabermos que ficaríamos juntos. Antes de sabermos que você me convidaria para morar com você, um dia. Antes de sabermos que nos separaríamos antes disso acontecer e nos imputaríamos tantas dores vãs, depois. Antes de sabermos que o Belas Artes fecharia suas portas e ficaria assim por três anos.
Muitos foram seus possíveis destinos: banco, igreja, centro cultural. Em meio à possibilidade e indefinição, ele se mantinha em silêncio, reservado, a observar a cidade. Mas seguia lá, sereno. Dele, sentiam falta a cidade e seus amantes, que jamais perderam a esperança e jamais desistiram dele. Acreditaram, sobretudo, que haveria no tempo alguma solução.
E assim foi...
Ter ficado fechado tanto tempo teve propósito e valor. Era necessária a separação, eram necessárias as reformas, internas e externas. A cidade não estava para ele e ele não estava para a cidade naquele momento. Algumas coisas são apenas o que são, e é preciso aceitá-las nesses momentos. Ambos, cidade e Belas Artes, precisavam se recolher, se modificar, se repensar, voltar a olhar um ao outro com o olhar generoso e leve de outros dias; nos quais o que se sente de bom - e o que se sente é sempre tão intraduzível em palavras quanto o seu olhar naquela sessão de 'José e Pilar'-, prevalece sobre qualquer dilema sobre ser cinema, igreja, banco ou centro cultural.
Hoje, repensado, repaginado, reformado, reabriu com grande festa. Três anos não arranharam um amor tão real e inquestionável (de paciência também se faz o amor). Ao contrário, a saudade virou expectativa de encontro; a expectativa de encontro virou festa a celebrar o novo Belas Artes que, sendo diferente, ainda é o mesmo. Tão mesmo quanto a cidade, repensada, que o recebeu de braços abertos, numa fração de segundo onde toda a separação jamais pareceu existir. Tão mesmo quanto o saudoso público, que correu para lhe tocar e sentir no perfume novo a nota já conhecida. Tão mesmo quanto o intraduzível dos seus olhos, ainda e sempre dentro dos meus...

segunda-feira, agosto 26, 2013

você

você, maré
na lua cheia, me invade
na ressaca, destrói a costa
baixa-mar, cala e retrai...
você, mar
cabelos de onda
hálito de terral
beijo de correnteza
você, oceano
mergulho profundo
vasto, imprevisto,
mistério meu

segunda-feira, julho 02, 2012

02/07/2012

Hotéis mudam de lugar à noite
(Sem avisar)
Enquanto pequenas epifanias
Mudam a cor do dia

quinta-feira, junho 14, 2012

14/06/2012

Se tempo é invenção
Passado é presente
Como você em mim.

quinta-feira, maio 03, 2012

03/05/2012

May
May...be
M(a)y Ma(y)
Maybe